Wednesday, July 27, 2005

O Filme (*1881 +2005)

Se você tem talheres de prata, venda-os porque o preço de mercado de nitrato de prata vai despencar para o buraco. Estou apenas registrando para mim mesmo que a maneira de como o cinema captou as imagens em seu século de vida, its finished, enterrado e com honras. Neste ano de 2005 o captação digital, entre outras palavras, o vídeo, superou qualquer emulsão quimica foto-sensível em 35mm (e 65mm provavelmente).

A Panavision em cooperação com a Sony debutaram a Genesis que é uma câmera que pode captar os 24 quadros a 14k de resolução. Se você achava que a sua câmera fotográfica de 5 megapixels era muito, essa camera de vídeo capta quase dez vezes mais pixels, 24 vezes por segundo. E a película 35mm química tem um poder de no máximo 8k, seus cristais não ficam menores que isso.

Seu CCD é das mesmas dimensões que um filme de 35mm, permitindo não só o uso de todas as lentes da panavision 35mm desde que existe no mercado, mas mantém as mesmas propriedade ópticas de profundidade de campo, contando com a mesma latitude do nitrato que a Kodak tem.

E não é só isso, com essa camera esqueça os fios, com ela você não precisa mais de um mainframe conectado via fibra óptica, inclusive seus HDs se parecem com os magazines de filme da Panavision antiga, então você vai ficar sempre bem na fita, melhor no making-of.

Mais, com essa câmera você pode ter uma abertura de shutter de 360 graus, ou seja, você pode escolher entre ter aquele efeito meio strobe do filme, ou não ter strobe nenhum! Movimento contínuo! Não é uma maravilha?

Mas não ligue agora, porque além de você trabalhar com resolução de 14k 4:4:4 (que um ou outro telecine no mundo consegue captar), além de usar as mesmas lentes que seu fotógrafo hollywoodiano faz questão, além dela ser wireless, ela vai poder filmar com frames variáveis, como a Varicam.

Dez anos atrás, nos cursos de fotografia que fiz, sempre fiz questão de encher o saco dos amantes do nitrato de prata. Um deles chegou a me falar: 'e sexo virtual, você acha que é o futuro também?'. Claro naquela época a imagem digital era uma merda mesmo. Mas a minha crítica era que o processo químico era incerto, o resultado de A+B+C era sempre uma interrogação. Por isso que se faziam testes, testes e testes antes do fotógrafo partir para o definitivo. Talvez aí morasse o charme da foto química, a inesperado, o feeling.

A Panavision Genesis está fazendo seu primeiro filme, Superman Returns, que era para ter sido filmado em 65mm, Bryan Singer tá com oito dessas Genesis. Poucas máquinas de finalização trabalham com imagens de 14k, Cidade de Deus, por exemplo foi trabalhado a 1k, O Ataque dos Clones a 4k. Tenho certeza que a Genesis deve estar dando alguma dor de cabeça para o fotográfo, já que ele é o primeiro no mundo a usá-la, mas em todo o caso é o fim de uma era, tanto nas produções indy com a Panasonic HDX tanto nas grandes produções de estúdio com a Panavision Genesis. Panasonic é uma coisa e Panavision é outra.

Wednesday, July 20, 2005

Questão de Ordem

O Financial Times provocou a imprensa brasileira afirmando que ela é incapaz de atribuir a dimensão correta de um escândalo nacional. É verdade, mesmo sem matérias suficientes, a Folha tem mais de dois terços do primeiro caderno entitulado no alto da página 'O Escândalo do Mensalão'. Uma das matérias tem a manchete: "Alckmin quer saber de onde surge o dinheiro do PT". Puxa.

Comprei a Veja dessa semana (e me arrependo muito dos oito reais jogados no lixo) com a capa "Lula Sabia! Saiba quando e onde". Abro a porra dessa revistinha (como disse o nobre deputado Roberto Jefferson) e lá não diz merda nenhuma, é só um que ouviu o outro que disse.

É tanta bomba atômica de festim, que a povo já devia ter tomado as ruas e quebrado vidraças com coquetéis molotov. Era para o povão já ter invadido a Daslu, e não a PF. No entanto a aprovação do Presidente Lula subiu. A situação está bizarra.

A competência suprema do governo reside nos alicerces da credibilidade no judiciário, legislativo e executivo. Hoje os três poderes parecem os três macacos, onde o executivo tapa a boca, o legislativo tapa os ouvidos e o judiciário tapa os olhos. Nunca o equilíbrio dos três poderes esteve tão frágil, e tudo isso na calada na noite, culpa de um suborno de três mil reais a um cafajeste no subsolo do correio, assim como a primeira guerra foi culpa do Franz Ferdinand.

Não há interesse soberano do Brasil nessa queima de credibilidade, estão alimentando o fogo para afugentar e dividir o que restar. E isso aliado com o rancor com o dedo em riste que o PT sempre apontou em todos estes que jogam mais lenha nessa fogueira. E como os canibais acreditavam, querem comer a carne dos defuntos do PT para absorverem o poder do dedo em riste.

Assim como numa guerra, as baixas são culpa dos generais e não dos soldados. E a culpa do PT foi ter investido mais em seu projeto de conseguir o poder do que a de simplesmente governar, de levar o barco para onde ele quisesse ir. Dirceu é um grande pupilo de Lênin "conhecer não é o bastante, precisamos aplicar. Desejar não é suficiente. Precisamos fazer". E quando finalmente pôde, um tsunami varre toda a sua linha de frente. Se Dirceu leu Fausto, ele deve ter se lembrado do final.

A direita nunca morre, ela é uma pedra-viva, por isso nasceu morta. Já a esquerda é como o mito da Fênix, que nasce das próprias cinzas. Ela está pegando fogo agora. Como será a nova Fênix? E quando ela alçará vôo? Será a tempo de nos salvar?

Tuesday, July 12, 2005

Aquilo que não Existe

Sendo franco, estou demorando a entender o o quê Spielberg quis fazer com Guerra dos Mundos. Esse filme lembra O Pianista, que é um filme que não tem dó do espectador, e como nele fiquei com a mandíbula presa. Aquele filme fala do que houve, esse não. Como pode um filme não ter moral da história e nem o porquê de ter sido feito?

Guerra dos Mundos é terror, melhor, um atentado terrorista, abusa da lembrança das torres gêmeas, o WTC. Eu me lembro de quando vi ao vivo as torres caindo e qualquer coisa era possível, fiquei memorizando cada field da rede globo, porque no field seguinte a história do mundo poderia mudar, como assim mudou. E esse filme puxa essa mesma atenção em cada frame, mesmo sendo um filme.

O filme refaz a história de HG Wells no século XXI, a mesma que Orson Welles detonou ao vivo na rádio CBS na década de 30. É o mesmo começo, meio e final. Conheço todas a versões, inclusive aquela da década de 50 na qual rezar era a redenção. Sabia que no final não mora o libertador da humanidade, e mesmo assim me enganei. Não existe nada de novo nessa versão, a novidade está no lance de ter o mesmo realismo mórbido de Saving Private Ryan e Lista de Schindler.

Talvez Spielberg tenha prostituído sua habilidade adquirida em filmes da segunda guerra, talvez seja a troco de fazer um blockbuster com Tom Cruise. Talvez. O filme é niilista, o fim não justifica o meio, vemos centenas (e milhões subliminarmente) sendo pulverizados para um fim em que o herói é a falha imunológica alienígena. Somos expostos a um excesso de violência que nasce do acaso e que do acaso vem a salvação. No banheiro do Bristol, todos reclamavam do filme, mas todos ficaram quietos nos momentos de ferida aberta durante o filme, inclusive aqueles que riam no cinema das primeiras cenas chocantes, abstraindo que estavam vendo um rio cheio de mortos boiando.

Quando soube que Spielberg filmaria a Guerra dos Mundos, eu achei graça, assim como da idéia de filmar King Kong, como da idéia de filmar Superman. Mas depois de assistir a Guerra dos Mundos me caiu a ficha. O cinema quer ser cinema, e não mais um espelho da realidade. Filmar um macaco gigante não faz sentido, até o momento de vê-lo na tela.

O cinema quer perder o propósito, quer existir porque existe. Quer mostrar King Kong brigando com um tiranossauro, não quer preencher nossas vidas, quer mostrar o absurdo que não existe. Eu diria que é o fim da crise existencial do cinema atual, nesse cinema não há espaço para Brad Pitt com sua cara de perdido. Voltamos ao Harrison Ford resoluto, que não fica se questionando, reage.

Talvez Spielberg tenha feito este filme por ego, se mostrar arrependido que em Contatos Imediatos tenha abandonado a família para embarcar em uma nave espacial. Talvez Spielberg quisesse peitar Orson Welles que gerou o verdadeiro terror apenas com sua voz, uma boa edição e um bom texto. Talvez ele quisesse fazer o cinema puro, onde o filme termina em si mesmo, para nos fazer viver aquilo que não existe.

O mais bizarro é que o final feliz do filme não é feliz, tem apenas o tom de que o pesadelo acabou. Eu fui marcado quando criança pelo trem fantasma do Playcenter que pegou fogo, em que todos ficavam assustados e eu que não ia por cabaciçe. Na fila do brinquedo ficava pensando o que poderia realmente me pegar, todo mundo me avisava que eu ia entender. Subo no carrinho, vejo uma caveira tirando gosma de um defunto, vejo um médico cortando um braço com uma serra, até ai era o esperado. E então do escuro um pano imundo (e meio molhado) estrategicamente colocado raspa pela minha cabeça e eu aí fico realmente assustado, como se qualquer coisa depois me pudesse tocar ainda, o carrinho passava a acelerar. Me olho depois pensando em como caí em um truque tão sujo. É justamente isso que eu quero de um filme, que me trapaceie, que me acerte com uma faca nas costas quando eu mais menosprezá-lo.

Friday, July 08, 2005

Grande abraço de afogado

Que assustador o que está acontecendo com o país. Será que este governo gesta uma ruptura tão grande assim? Estão negociando nos bastidores uma nova mudança constitucional, a de se retirar o direito à reeleição do presidente, valendo já para 2006. O mesmo que fizeram com FHC em 97 com o sinal invertido.

Isso não pode ser sério, que espécie de jogo é esse em que as regras mudam sem as cartas completarem uma rodada? Porque eu uso tantos pontos de interrogação?

Que merda de constituição frouxa é essa que muda de acordo com o vento? Que merda de mídia é essa que pondera sobre isso como 'uma possibilidade'? Tão querendo que Lula dê um tiro no coração? Essa será a atitude dele se todas essas energias continuarem confluindo nessa direção.

O PT é santo? Nunca foi (só o Suplicy é santo). 'Governar é uma via de mão dupla' é o que os tucanos sempre nos lembram. Acharam que o PT seria de mão única e não foi, vingaram uma estabilidade política e monetária desatreladas entre si, que é o que há de mais importante em qualquer nação do porte da nossa. Os rancorosos tucanos que esquecem a herança de caráter de Covas querem que tudo se exploda, mas sem abrir espaço a um 'aventureiro' como eles mesmos dizem.

O golpe branco está sendo erguido, sufocando o governo com denúncias de práticas que são infinitamente menores do que as crias que o PSDB nos deu durante oito anos. Estamos com um presidente que quer podar contratos de luz e telefonia privatizados internacionalmente com ajustes baseados no IGP, que por sua vez é ajustado pela revelia do preço da luz e de telefonia. O PSDB nos divertiu muito com o banco Santos, Daniel Dantas, sufocamento das exportações, dívidas privadas em dólar que da noite para o dia triplicaram com o racha de 99, sem falar dos apagões.

E hoje, quando digo tucanos, não é só a meia dúzia que briga com FHC pelo posto de futuro presidente, mas de parte da mídia, de conglomerados, de parte da população que jamais votou em Lula em uma qualquer das três eleições, principalmente a do Collor.

Aqueles que votaram no Collor querem uma reparação, porque foi provado que foi um voto errado, era para Covas ser presidente, mas foram seduzidos pela leviana aparência. Querem a reparação provando a qualquer custo que Lula também foi um voto errado. O governo Collor foi estupidamente irresponsável, o Brasil reduziu seu PIB com um plano econômico lunático, coisa quase inédita no mundo, mas não, houve o encilhamento um século antes aqui, eta povo brasileiro.

Agora olham para um governo que foi obrigado a negociar na única moeda que metade da merda desse nosso congresso entende. E todos reagem como se descobrissem que sua filha não é mais virgem, que ela tá dando adoidado por aí. Querem amputar o governo antes que essa sensação esfrie e todos botem a mão na consciência. O problema do país não está nesses 30 mil, mas nos mi e nos bi de contratos de lobistas que em teoria é mais forte que qualquer ideologia patriota de funcionário público que monta esses contratos.

Querem resolver o problema do mensalão? Que mudem o mecanismo de financiamento de campanha. Porque político, principalmente os peixes pequenos que recebem mesada, só pensam em como pagar a próxima eleição. Para eles, só se sai da política uma vez, não existe segunda chance, não conseguiriam a façanha de financiar uma nova candidatura trabalhando com um ofício 'honesto', o que provavelmente tinham antes de serem 'políticos'.

O PSDB debulhando o PT é estar dando um tiro no próprio pé. Mostrar para a população que político é tudo igual, ainda mais os do PT, é nivelar tudo por baixo, é algo que vai reagir na vida política pulverizando ainda mais os partidos. O máximo que conseguirão provar é 'bem, parece que o PT é igual ao PSDB, então pra quê votar em qualquer um dos dois, acho que vou votar é no Jefferson'.

O destino do PSDB era ser o nosso partido republicano, dividindo o equilíbrio do poder com os democratas do PT. E agora a vida do PSDB vai se reduzir a mais uma página da história que ninguém vai lembrar nessa massa cinza e uniforme que é a vida em Brasília. Todo mundo cai por duas coisas: ganância e/ou vaidade. E a ganância política deste país pode acabar sufocando a todos nós em um grande abraço de afogado.