Wednesday, August 31, 2005

Fade-to

Num Piscar de Olhos parece ser bem lido neste hemisfério, tem pessoas que tratam o livro como uma biblía, mas sempre acho fórmulas questionáveis. A começar com o lance da emoção, em que há uma hierarquia para a edição: 1) emoção 51%; 2) enredo 23%; 3) ritmo 10%; alvo da imagem 7%; plano bidimencional da tela 5%; espaço tridimencional da ação 4%. Well, first, eu acredito que tudo que é feito em um filme, desde a primeira linha do tratamento à luz rebatida é pensado para gerar emoção, se não está tudo errado; na edição, quando se escolhe o 'alvo da imagem', ou o 'plano bidimencional da cena' está embutida a emoção, tudo faz parte do mesmo todo que é a emoção, não existe como separá-la do enredo ou do ritmo. Fico imaginando um editor usando referenciais fracionários enquanto edita 2001.

Talvez isso seja apenas uma forma didática de mostrar as prioridades de uma edição, mas ao mesmo tempo, definir 'prioridades' já me parece um erro (só para constar Staninlavski nunca seguia na prática o que escrevia). Para mim editar é como escrever, não há como se ensinar alguém a escrever, a ensinar como usar uma pontuação dramática, pode-se aprender, mas transmitir o fator orgânico de criar, de dar vida, é impossivel. É como saber se alguém está lhe dizendo a verdade ou não, é o caso do cético Pilatos, que não consegue saber se Cristo fala a verdade ou não, sua mulher então lhe diz que se ele não consegue enxergar pelos próprios olhos, ninguém poderá ajudá-lo a ver.

Editar é mais do que encontrar o ponto certo do corte, é saber o que se está contando, se você não sabe, qualquer corte é errado, se você sabe, qualquer corte é certo. Em um momento do livro, ele traz o lance do piscar de olhos, e ele chega a dizer que em uma luta você pisca mais, logo deve haver mais cortes. Justamente o maior erro da edição hollywoodiana moderna. O lance do piscar é de fato uma pontuação de nosso cérebro, você pisca quando seu cérebro acende um ponto de interrogação, de exclamação, uma vírgula ou um ponto final, mais do que isso, ele abre o paragrafo para o próximo pensamento. É de fato uma manifestação para saber se alguém está realmente pensando o que diz, principalmente, atores. Mas usar isso como uma referência direta para o ponto de corte, não me parece certo, isso me lembra no primário quando a professora falava que onde você respira numa frase, você bota uma vírgula, enquanto que na verdade é exatamente o oposto.

Como sou muito culto, assisti o Fantástico lá na praia, e lá passou um documentário sobre onde nossos olhos olham. Era um capacete que filmava o plano de visão da pessoa e para onde ela está apontando a sua visão. O movimento dos olhos não é linear, é fragmentada, é o copo, é o anel, é o decote, é o anúncio, é o gelo. A linearidade está na mente e não nos olhos. Quando um tigre está prestes a nos atacar não piscamos, quando um tigre ataca o domador do circo não piscamos também, mas nossos olhos editam a cena, o sangue, as garras, as pessoas próximas.

O piscar está conectado à nossa mente porque podemos morrer em um piscar de olhos, nossos olhos só podem fechar entre um pensamento e outro, nunca dentro de um, mas isso não significa que se não piscamos nossa mente não está editando o mundo. Os olhos nunca param, nem mesmo quando dormimos. Olhar é buscar, piscar é reagir, e tudo faz parte do mesmo movimento.

Tem uma metade que falta no livro. (ele é fininho, né?)

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No meu longo estágio de duas semanas na agência da facú, eu estava como redator, um outro cara redator que lá já estava a mais de três meses, me viu em frente a tela branca do word, e me falou 'existe algo mais inspirador do que uma tela em branco?' eu me virei para ele e disse 'pra mim não existe nada mais aterrorizador'.

Existem momentos em que nada parece que funciona, nem seus clichês, nem artifícios, nada do que você já aprendeu. Mas justamente disso é que me verte água para continuar em frente, por que se conseguir passar por este muro, seja lá o que for, será novo. Tenho medo de que eu vire um eco do que já fiz, do que já escrevi, do que já pensei ...compulsão é uma coisa estranha, ela te atrai e te repele, quando se está no movimento dela, você vai até o fim, quando se pára, se tem medo de embarcar de volta.

Thursday, August 11, 2005

Homo homini lupus

A morte nos cai bem. Aparentemente, a guerra de classes no Brasil prevalecerá, é desconcertante o que está havendo em Brasília. A briga pelo palco político está esganando o futuro que poderia ter sido. No congresso aprovam medidas absurdas apenas para serem vetadas pelo presidente, como um aumento no mínimo de quase 50% do dia para a noite.

O país está sangrando de acordo com que escrevo estas palavras. Apesar do lindo dia que se fez hoje, eu sinto que está tudo em suspensão. O ar não se move, as nuvens ficam no mesmo lugar, as folhas secas não caem. O Jornal Nacional deve estar escrevendo o obtuário da esperança neste momento. Depois de um forte suspiro de alegria, voltamos às trevas, nosso lugar.

O Brasil é um filme triste, você sabe como vai acabar. O filme triste te dá a esperança que ainda pode dar tudo bem, até que seu amigo mais próximo lhe acerta um tiro no coração na porta do trem.