Friday, July 28, 2006

Atenção aos detalhes

Sem dúvida me hospedaria no Overlook Hotel, só que dá um trabalhinho...

Primeiro, pelas 'Externas', você viaja ao obscuro estado de Oregon (costa oeste americana):






Depois, pelas 'Internas' você pega uma estrada pro sul, pro norte da Califórnia (lugar q também só neva, dá pra imaginar Charles Bronson caçando o Búfalo Branco):



Meu Deus! Por que alguém se casaria nesse hotel? é melhor esconder os machados...






foi dificil achar essas fotos...

Kubrick refez os dois hoteis na Inglaterra (claro, em nenhum momento ele saiu de lá), mas garanto que a sensação de 'estar' no hotel do Iluminado é muito mais fiel aqui do que qualque lance 'temático' baseado no filme.

Para quem tem saudade da neve do Overlook, dá pra ver essa web-cam aqui.

para quem ainda não viu o trailer de re-lançamento do Iluminado, recomendo assisir:

Shining

Saturday, July 22, 2006

A Frase que iniciou Hollywood

'Não quero isso bom, quero isso terça!'

Sunday, July 16, 2006

Superman sem 'man'

Porque não precisamos desse Superman?

Primeiro porque já temos Homem-Aranha, sinto muito DC, mas não precisamos de heróis monossilábicos, e ainda pior, mal escalados. Escolheram o Superhomem pelo queixo, não dá. Não dá para haver um herói que não consiga exprimir sentimentos, e a diferença entre Clarke e Superman é (era, né) o olhar frágil de um e o olhar de segurança do outro, e não só o tom de voz retumbante e óculos, porra.

Esse Superman tenta emular o de Richard Donner, e tem aquilo que aprendemos cada vez mais em filmagem, não existe como repetir o incerto. O cinema é incerto por natureza. Quando você o faz, o repete, é como se tocasse uma música a partir da partitura, e não do coração. Não adianta aumentar a ressonância do piano, não adianta tocar mais forte, adianta sim buscar um pensamento original que venha da paixão.

Esse filme nos faz pensar em como Christopher Reeve era mestre em fazer esse personagem que usa collant azul e capa --era um em um milhão; e pela própria matemática, um em um milhão lembraria Reeve, mas apenas um em um bilhão o lembraria e ainda conseguiria repetir sua canastrice. Esse ator que escolheram pelo queixo tem mais profundidade em seu olhar quanto o olhar dull de um tubarão. Entre a burocracia de um ator e uma computação gráfica não há lá muita diferença.

A premissa para este Superman é genial, mais que todas as outras anteriores que foram apresentadas para a Warner (tipo, um Lex Luthor vindo de Kripton não dá). E ela se baseia em ser a continuação de Superman II, aquela em que ele abre mão dos próprios poderes por Lois. Onde ele pôde perder a virgindade em uma noite nas cataratas do Niagara com ela, e que rendeu um filho sem que eles saibam; mas Superman fez Lois esquecê-la, porque Clarke e Superman nunca poderiam ser um só para ela, um dos dois teria que sumir. E Superman não tinha opção.

Superman viajou para os restos de Kripton não para descobrir alguma pista de seu passado, mas para se distanciar de Lois. Essa premissa é, francamente, óbvia, mas era completamente invisível até que Singer, ou um de seus colaboradores, a viu.

E é isso que soa tão estranho neste novo filme, há uma intimidade com aqueles dois filmes feitos trinta anos atrás, mas ao mesmo tempo não há. Vamos começar pelo começo, a mãe de Superman quase não existe nesse filme, ela não solta uma lágrima pelo filho que retornou depois de cinco anos (Clarke volta ao Planeta Diário ao mesmo tempo que Superman, e ninguém estranha) Lois trata o que era o melhor amigo (Clarke, claro) como desconhecido; o patrão muda de personagem, mas finge que é o mesmo. Jimmy agora parece ter uma fixação por Clarke (!?); Lex parece não ter sido acusado de ter querido destruir a Califórnia com bombas atômicas, e de ter cooptado com General Zod na frente do presidente dos EUA.

Ao mesmo tempo Kevin Space evoca a atuação de Gene Hackman, uns dez planos copiam frame-a-frame Superman I, sem falar da história com o Lex querendo de novo ganhar com uma mega-giga especulação imobiliária; é como se Singer quisesse chupar daqueles filmes só onde achasse conveniente. Onde este filme podia ter corrigido o problema deles, acabou perpetuando; onde este filme deveria ter recorrido aos elementos mais importantes deles, ignorou. É difícil de explicar, mas se reflete muito nos arranjos musicais do filme, fortalece as notas que queríamos ouvir de novo, mas no timing errado, como se dançasse fora do tempo.

Singer vulgarizou o que havia de melhor, apostou no seguro, e escolheu o ator errado. A minha sensação é de vazio, parece que Superman morreu com Reeves, e agora temos um profissional pago para ficar no lugar fingindo que nada aconteceu. Money makes the world go round, let’s move says the studio, who cares about?

…well, at least, me.

(e ainda, mais da metade do roteiro, parece ter nascido mais de ‘informações’ sobre o herói do que uma história, em toda a aleatoriedade que transparece, o pragmatismo cego gera situações bestas, situações para mostrar os ‘super poderes’ como uma bala no olho pseudo-azul do super herói, a super audição, o super hálito ---que nunca engoli pela própria física— apagando misteriosamente o fogo de vazamento de gás (devia sim gerar uma explosão), qualé? Assim até Robocop. Isso me lembrou X-Men 2, onde cada cena foi criada porque havia um contrato em que cada ator 'principal' teria cinco minutos de limelight).

Ahh, e antes que me falem de absurdos do Superman I, não é a Terra girando ao contrário que faz o tempo voltar, é o tempo voltar que faz a terra girar ao contrário. Desafiar a ordem do mundo, das leis, por um amor é o que faz o 'man' de Superman, é a grande falha de onde nasce o espírito para a mudança; e enfim, chega dessa lenga-lenga do sacrifício dele pelo mundo (que a DC fica tentando empurrar, como uma espécie de novo Cristo), isso é o mínimo que se espera do salvador, e é o que faria (agora, faz) dele diferente de nós.

...e toda questão-chave desse novo filme, o lance da Adoção, não colou.

Friday, July 14, 2006

O que Forma a Forma?

2001 é o Big Bang da geração de cineastas da década de 70, de George Lucas a Ridley Scott. Foi o filme que mais quebrou as pernas do público, da comunidade cinematográfica e principalmente dos críticos de cinema. Era tão diferente de tudo que havia antes que 217 (contados um a um pelo próprio Kubrick) espectadores abandonaram o filme no meio na grand-premiere, inclusive o produtor da MGM. Como Kubrick conseguiu imaginar uma forma de cinema tão espetacularmente diferente que foi quase incompreendido?

Se eu falar que era a obsessão dele pelos efeitos especiais, pareceria leviano, mas não acho que seja muito longe da verdade. Temos que levar em conta que o termo 'efeitos especiais' soa pejorativo, mas também temos que levar em conta que sem o 'efeito especial' a cena não existiria. Kubrick queria contar 2001, para isso ele precisava filmar numa locação milhares de anos atrás, filmar naves espaciais, filmar gravidade zero, filmar na Lua, filmar um portal estelar, bem, 2001 é 'efeitos especias' a ultima potência. Para conseguir isso num mundo não digital ele teve que aplicar sobreposição óptica, motion control e uma série de novos mecanismos que nunca existiram e praticamente nunca seriam usados de novo.

Olha só, ele podia ter feito a sequência dos primatas na África, mas como ele não tinha controle sobre o clima, ele preferiu filmar em um estúdio, e sério, nunca vi um céu tão lindo quanto nessa sequência. Como ele conseguiu aquele céu? Bem, aquilo é uma foto projetada numa tela atrás dos atores primatas, não meramente projetada, mas projetada apartir de um espelho translúcido que fica a 45 graus do eixo da camera, parecido com a tecnologia que não vimos todos os dias no Jornal Nacional, o teleprompter. A projeção bate no espelho e é mandada diretamente para a frente da camera numa tela gigantesca da 3M que reflete 100 vezes mais luz que qualquer material, mesmo um cara de roupa prateada iria só aparecer a silueta preta dele. A sombra dos atores na projeção é invisível para a camera, e assim, você consegue uma composição perfeita dos dois planos, melhor que qualquer recorte, tão natural quanto é a realidade.

O grande impecilho é que a camera não pode se mover, e quase todos os efeitos de composição de 2001, inclusive as naves, foram feitas assim. Kubrick usou também motion control, que é uma camera com um braço que repete movimentos para filmar mais de uma vez o mesmo plano, mas como naquela época não existiam micorcomputadores, o lance era pré-programado mecanicamente, era extremamente limitado.

Veja bem, a diferença de efeitos entre 2001 e Star Wars era o movimento de camera, tirando isso ambas produções são tecnicamente irmãs. Spielberg que disse: 'não é só porque tem um dinossauro na cena é que eu vou mudar o comportamento da camera'. Mas se o dinossauro ditasse o movimento da camera, todo o filme teria que ser coerente com esse movimento.

No caso de Kubrick, o movimento de camera era limitado pelos efeitos epeciais, todo o filme teria que ser coerente em relação a isso, mesmo que fosse uma cena do pai falando com a filha. Na verdade toda a narrativa teria que ser coerente com os movimentos quase estáticos dos efeitos, como de fato é. O que seria um problema se torna linguagem, e é nesse canvas que Kubrick pincelou seu roteiro. Arthur C Clarke disse que nem ele mais entendia os porquês das opções de Kubrick. A criatividade de Kubrick estava em lidar com as limitações, como normalmente todo cinema acaba sendo, mas as limitações dele eram absurdamente novas, e ele acabou tendo que adotar uma linguagem completamente nova.

Essa história desmistifica um pouco 2001, mas não posso deixar de ver que é bastante inspirador.