Friday, November 24, 2006

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Thursday, November 23, 2006

Technology in Review

Foi uma semana emocionante para a tecnologia pop, quero dizer, tão emocionante quanto uma corrida de Fórmula 1. Foram duas novas plataformas de videogames, a microsoft lançou um clone do ipod, a apple vai lançar um celular, filas de japoneses nas lojas, especulação financeira no ebay. Não vejo isso desde 99, quando só se falava em convergência e playstation 2.

Voltando a 06, escutei essa idéia do iphone faz uns meses, achei que era mais um tiro nágua desses sites de adoração à apple. Agora se descobriu que é um ipod+phone. E nisso que fiquei pensando, se o Jobs fizer um ipod em formato de telefone, ele vai se jogar na mesma lama que a motorola e a sony se meteram. O ipod é muito holístico para ser convertido em uma função de celular que conhecemos hoje. Deve ser outra coisa, alguma coisa mais simples talvez.

Acredito que a solução elegante é apenas colocar um microfone no headphone. Afinal se você carrega um ipod, você está sempre com headphones. Isso ajuda a explicar também porque a apple não vai deixar as operadoras vender esse telefone, digo, ipod.

E esse lance do zune também... eu tenho certeza disso, nenhuma, mas nenhuma mina vai querer um zune. Os únicos compradores serão aqueles que sempre deixaram de comprar um ipod por ideologia. Completamente entendível. O foda é que essa 'rede social' wireless que a microsoft quer fazer com o zune só vai ter homens, moleques que acharam que isso poderia ser uma boa cantada, passar uma música para uma desconhecida no metrô. Talvez até fosse, se fosse apple e não microsoft, e convenhamos, marrom é uma cor um tanto repelente para as mulheres usarem.

Passar o fone é mais fácil, já disse Jobs. Mas eu vejo uma picada da serpente nessa história de wireless. O zune é um toroço, o ipod está ficando invisível (exceto o fio branco que eu acho brega). A microsoft sabia que tamanho era essencial, sabia que espaço em HD era essencial, não tem espaço para outra coisa... no entanto os caras toparam que wi-fi era essencial também.

Você pode passar quantas músicas quiser para outro zune, o zune que recebe pode tocar três vezes, ou vai apagar em três dias, o que vier antes. As pessoas pensam no praquê vou baixar uma música que some em três dias? Porque deve haver uma pesquisa em algum lugar que diz que um hit precisa ser ouvido numa média de três vezes para o 'consumidor' 'avaliar' que é um hit. Pensando no melhor cenário possível, meio mundo tem um zune, todos com canais abertos recebendo e repassando hits, esse conceito é problema para o itunes, em que, se você quiser ouvir algo novo, você tem que ir para o seu micro, ouvir do micro, comprar, conectar o ipod, para só então poder curtir o lance como se devia. No zune seria instantâneo, enquanto que o itunes é perfeito para comprar albuns, não funciona como as FMs da década de 80. (detalhe, a estupidez da microsoft permitiu que: se você transfere uma música, tudo o que você escuta é silêncio, o zune não consegue mascar chiclete e andar ao mesmo tempo)

Mas o fato do ipod ter uma conecção celular muda isso. Isso pode ser usado para reverter o fato que o ipod é apenas um pólo, e não uma junção. Que no ipod estão as músicas que você escolheu, e não as que vieram até você, e nunca foi desse modo que músicas se tornaram hits, o que está no ipod são cults. Cults vendem, mas hits criam impérios. A primeira empresa que desvendar isso, de fazer os hits fluírem digitalmente, seja a apple, seja a microsoft, terá aqueles 'vinte anos' de hegemonia. Mas de novo, talvez. Depende de quanto de bala a microsoft tem para ficar tendo prejuízo com cada zune vendido e pagando 4 gravadoras mundiais para ficarem no barco.

E deu pra ver pela nova patente da apple que agora os ipods vão vender como isqueiro zippo, como aqueles últimos imacs pintados de bolas vermelhas Laranja Mecânica individualizados. O impressionante da apple não é só a inovação, mas o timming também.

Desde a tv interativa, que naufragou ao sair do porto, a microsoft gastou quatro bi na primeira geração do xbox, e sabe-se lá quanto para poder antecipar em um ano e meio a geração atual dos consoles com o X360. Eu diria que metade dos gastos atuais da microsoft é dela tentar se devincilhar do PC, procurando um viés, seja na sala de estar, seja no bolso.

O primeiro X-Box foi pensado para poder acessar o msn do sofá, ver dvds, e eventualmente, um halo. Mas sendo franco, a única utilidade útil que foi utilizada do xbox é rodar halo. De novo, a microsoft fez um produto para os nerds, e o X360 conseguiu ser ainda mais feio com cores new wave. Perdoem-me, o playstation 3 tem seu chick attractor muito eficiente para um videogame (só o boot da máquina já é muito cool).

A sony entendeu que seu publico é hoje mais velho, que dispõe de grana para luxos que não tinham quando teenagers, como gastar 600 dólares em um video game. Blueray via HDMI vai ser a maneira de se ver filmes em casa (acho que metade dos filmes nem tem tanta informação no negativo), o HD-DVD cabe menos, e isso conta, não muito, mas conta. Essa máquina foi projetada para trabalhar a 1080p, que vai ser o máximo para se ter em casa durante um bom (puta) tempo. O X360 aqui no Brasil derreteria fácil nessa resolução (se trabalhasse).

O PS3 ainda é uma extensão do primeiro playstation, não é como o Wii que quer voltar ao princípio, ao Famicon. O gamecube foi um erro na tragetória da nintendo, que quis rivalizar com a sony em gráficos, e conseguiu mesmo ninguém sabendo. Agora eles deram as costas para o processamento, o console trabalha não muito mais do que a resolução de um dvd, que hoje ainda não é pouca coisa, mas aos poucos e rapidamente, vai deixar infelizes muitos proprietários de telões de plasma.

600 doláres é o preço de ter um dos computadores mais rápidos do mundo, blueray, HD de 60 giga e wi-fi, no momento é uma barganha (o calculo é de que a sony perde 200~300 dolares por aparelho). É um desperdício toda essa potência, que supera 99% dos computadores pessoais sobre a terra, para rodar jogos. Acho que nem a sony tem uma pista para onde isso pode levar. Saídas HDMI podem ser usadas no seu monitor LCD de mesa, saída de áudio digital, saídas USB ligam mouse e teclado... eu preferia estar escrevendo em um PS3 do que nessa geladeira que gastei bem mais do que 600 dólares. Photoshop para PS3... hmm... Vegas? Soundforge? a sony tem toda uma esquadrilha de programas que poderiam muito bem usar esses 200 gflops de processamento ...é tudo para justificar a compra 'adulta' de um videogame.

A nintendo tem razão de dizer que mais processamento, mais detalhes, não ajudam em muito os jogos, e sim aumenta o número de pessoas trabalhando para trazer um jogo da prancheta. Se for isso verdade, o PS3 atingiu o máximo que os video games podem fazer no mundo bidimensional: photo-like quality. Eu diria que ainda sobrou algo, que talvez a microsoft traga em uma futura geração, que é um processador indepedente para a física das partículas do jogo. Mas isso é outra história.

Eu diria que aos poucos os tentáculos que seguram os PCs (e Macs) em nossas vidas estão se desfazendo. Cada vez mais temos roteadores wireless em casa, que conectam impressoras, handhelds, videogames, sem precisar passar em momento nenhum por um windows. Nem a microsoft espera se manter eternamente com um processador de texto, uma planilha e um apresentador de slides. Esses programas que se dão muito bem com a impressora, se deram muito mal com a internet, copiar um texto em html e colar no word é um pesadelo. Essa parte, a google é quem domina.

O Xbox e o X360 venderam 33 milhões de unidades, a base do playstation 2 é maior do que 110 milhões (e o PS1 vendeu mais 100 milhões). A sony só está fazendo a continuidade do produto, é coerente. A apple está em um labirinto que ela mesmo gera, é coerente com sua história. A google parece o messias em forma de empresa, nunca vi um conglomerado tão estranhamente altruísta. No meio disso, a única empresa em chão firme, a microsoft. Há pessoas inteligentes lá com recursos ao extremo, que tentam acompanhar a música, mas que não sabem que não sabem dançar.

O X360 é 'compatível' (roda um emulador) com o finado X-Box, melhora os gráficos dos jogos antigos, anti-alising, etc e etc, mas todos reclamam do frame-rate. O PS3 roda os games do PS2 e PS1 de forma idêntica aos originais, abrindo mão de 'melhorá-los' em troca de um frame-rate idêntico. A rockstar desistiu de lançar Bully para o X-Box, lançando apenas para o PS2 --Bully é o gta que se passa numa escola.

São erros craços, a microsoft faz um atrás do outro, mas ela é como a tartaruga que ganha do coelho. Ela erra, afirma que errou, diz que concerta, e continua como se não fosse nada. Tô de saco cheio dela, NÃO INSTALE O INTERNET EXPLORER 7!

É impossível dizer o futuro, apesar dele ser inevitável. Eis uns vídeos para a nossa vingança, quando as coisas dão errado:

Steve Jobs tendo alguns bugs & o presidente da Sony com bugs:



Agora a vez da microsoft:



A essência do CEO Steve da Apple:



A essência do CEO Steve da Microsoft:



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Monday, November 20, 2006

ironia

Deram reboot no 007, arrancaram todas as pelancas e colesterol que acumularam nesses 40 anos: é sem o Q, secretária, geringonças, piadinhas, vilão querendo destruir o mundo. Sobrou uma negra ópera realista sobre um herói-assassino. Pelo que eu li, funcionou bem.


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Mas o motivo pelo que estou postando é que 007 foi batido no box-office por esse filme aqui:

Saturday, November 18, 2006

Caosmerciais

Ok, todo mundo já sabe meu desprezo pela propaganda nacional que tem dominado o mercado nos últimos dez anos. É o mote 'o negócio é assolan', que não interessa idéia, originalidade, talento, o único lance é o 'retorno', sei. Um amigo me alertou: 'a W/Brasil não está mais entre as dez principais agências, tem que haver algo errado'.

As propagandas brasileiras estão sem alma, e na grande maioria bate no fundo do poço na mediocridade. Quando não é uma cópia, é a idéia mais harmless possível, que abre tantas concessões que às vezes se torna incompreensível.

Eu sei que é complicado lidar com idéias, é dificil de tê-las, é difícil de transmiti-las, é dificil de convencê-los. Mas nosso guru já disse "Quando você começa a resolver um problema, as primeiras soluções são sempre muito complexas, e a maioria pára por aí. Mas se você continuar, conviver com o problema, descascando as camadas, você pode conseguir algumas soluções simples e elegantes. Quase ninguém entrega o tempo e a energia para chegar lá".

Na cultura 'Fernando Meirelles' de propaganda, tudo o que você precisava era de um bom diretor, mesmo que a idéia fosse um cocô. Isso substituiu os criadores da década de 80, em que o que você menos ouvia falar era do diretor. Hoje, Fernandos Meirelles estão em falta, ou querem sair ontem. Talvez porque as campanhas nacionais hoje estejam na mão do atendimento. Eles usam apenas pesquisas e 'referências' (cópia na cara dura) para justificar qualquer coisa para o cliente. Tendo o aval do cliente, eles se justificam para o exército das agências e produtoras.

Eu lembro de uma época em que pessoas eram apaixonadas pela propaganda, vinham como profetas propagando a fé que éramos nós que entregávamos a alma às 'coisas'. Foi uma fita de Cannes (93) que primeiro me convenceu a fazer propaganda, era como trabalhar com magia, e eu achava impossível um mero mortal como eu fazer algo próximo daquilo. Fui fazer o vestibular com a Poli na cabeça, e não a ESPM. É uma história meio Barry Lyndon, então vou pular.

Mas fiquei lembrando daquela fita esses dias, das propagandas geniais da Cammel (as propagandas de cigarro eram as mais bem sacadas, eram as que chegavam no útero da questão 'publicitária' com uma leveza que não se vê nem de perto aqui mais). E talvez o que tinha me convencido a fazer propaganda eram que boa parte delas eram brasileiras, muitas, e geniais. Isso que me acendeu a lâmpada do 'é possível'.

E agora, toda essa geração que viveu sob essa édige não se importa com 'prêmios'. Sei que existe aquela frase do Herzog 'prêmios (prizes) são para cachorros', mas saber que o Brasil tá fora, sem qualquer expectativa de bater comerciais gringos (de longe), me irrita, viramos rodapé do passado publicitário. Talvez seja o pecado de Washington Olivetto ter empilhado os milhares de prêmios dentro de uma caixa de plástico durante a década de 80.

Atendendo a pedidos, postei uma amostra do que se faz lá fora, recomendo assistí-los antes que o youtube resolva apagá-los todos. Aqui está a publicidade na sua mais pura forma:

AUSTRÁLIA:
Carlton Beer Ad (the biggest ad in history)


INGLATERRA:
Honda ad - 'Hate Something, Change Something' (Grand Prix)


US and A:
Adidas ad


US and A:
Toyota Tacoma ad


AUSTRALIA:
Lynx ad


US and A:
Starburst Sweets ad


FRANÇA:
AIDES - Aids Awareness Ad


AFRICA DO SUL:
Homestead ad


INGLATERRA:
Vodafone Ad


ESPANHA:
Audi RS4 Ad


INGLATERRA:
AOL ad


FRANÇA:
Canal+ Ad


ITÁLIA:
Ariston Aqualtis ad


AUSTRALIA:
McDonald's Ad


AFRICA DO SUL:
BMW Bi-Xenon ad (for Cinema theater)


ESPANHA:
Athletic Club ad


HOLANDA:
VW Golf ad


JAPÃO:
Matsudaira Real Estate ad


US and A:
IBM ad


THAILÂNDIA:
Bangkok Insurance Ad


US and A:
Ikea ad


CANADÁ:
Bud Light Institute ad


US and A:
Bud Light ad


US and A:
Toyota Tacoma ad


THAILÂNDIA:
Soken DVD ad


INGLATERRA:
Guinness ad (GP)


FRANÇA:
Amora Hot Ketchup ad


ARGENTINA:
Recrear Ad (political message)


INGLATERRA:
Xbox ad


US and A:
MINI Cooper ad


INGLATERRA:
McDonald's ad


US and A:
VW New Beetle Convertible ad


HOLANDA:
VW Golf ad

Monday, November 06, 2006

O Abismo entre o Infinito e o Finito

Lembro do The Producers (Primavera para Hitler, do Mel Brooks), na cena em que eles lêem pilhas de peças, procurando o maior fracasso possível, eles cogitam Metamorphosis de Kafka.

É a história mais triste do mundo, não me venha com Shakespeare. Gregor, o homem que se transforma em um inseto gigante, não é uma analogia filosófica, não é um papo intelectualóide, é simplesmente a visão lúcida de como nós lidamos com a aparência. Metamorphosis também não é uma visão sobre a transformação, é sim sobre como nós somos escravos de nossos sentimentos, pela percepção, da esmagadora falta de controle que temos sobre eles.

Gregor é um cara como eu e você, tem uma família amorosa, luta para ganhar a vida honestamente como eu e você. Aos poucos sua familia vê a pele dele descamar, apêndices gotescos se desenvolvendo, aos poucos ele parece cada vez menos homem. O foco de Metamorphosis não é a transformação em si, mas a reação da família de Gregor à sua metamorfose. Gregor continua a ser a mesma pessoa, seu corpo lentamente se deforma, mas diferente da Mosca, o corpo de Gregor é frágil. Sua família, sua irmã em especial tentam abstrair da aparência, mas não conseguem sequer olhá-lo de frente. O deixam fechado no quarto, sua irmã é a única que se dispõe a passar algum tempo com ele, tentando fazer ele e ela esquecer por momentos o que estava acontecendo. A família tenta o dever da compaixão, tentam não se deixar levar pelos sentimentos mais brutos. Aos pouco a esperança começa a ruir e o tratamento deles em relação a Gregor é desgosto e asco enrustido. Seu pai, manifestando nada além de raiva joga uma maçã sobre as costas frágeis de Gregor que foje para o quarto.

Gregor cada vez mais isolado da família e de tudo, passa o tempo da sua solidão olhando para a janela paralisado no teto, escondido no canto do quarto. Um dia ouve sua irmã tocando violino e vai até ela querendo ouvir de perto. Ela reaje brutalmente o chamando de aquilo, que precisam se livrar daquilo. Gregor foge para o seu quarto pela última vez, onde ele se deita e a infecção da maçã em suas costas e a fome o consomem. Sua família um dia reabre a porta e finalmente vêem o corpo morto, o que sentem é alívio. Todos os problemas que tinham, sociais, econômicos dissipam, diretamente ou não ligados a Gregor. Rapidamente esquecem tudo o que aconteceu, e seguem com suas vidas.

Isso é puro David Lynch, um filme que ele sempre quis fazer mas, obviamente, não consegue financiamento. O Homem Elefante é o que mais se aproxima de Metamorphosis, é o mesmo teor no sentindo inverso. Nele, ele nasce um monstro, conhece o pior das pessoas logo de cara, e aos poucos o educado adolescente elefante vai conhecendo pessoas que conseguem enxergá-lo além da aparência.

Não podemos extinguir com os sentimentos negativos, eles são da nossa natureza, e a questão nossa de lidar com eles é: não podemos confiar neles. Shakespeare é isso, a manipulação sobre Otelo, a vingança de Hamlet, todos eles confiando em sentimentos negativos sobre a razão, levando inevitavelmente à morte dos que os amaram e a si mesmos. Mas tanto Dogville quanto Metamorphosis mostram situações extremas, o 'até onde a família suporta' ou 'onde até ela suporta'. Eu sei que pessoas não se transformam em baratas e nem que Nicoles Kidmans seriam pobres princesas pedindo ajuda. Mas coisas da mesma natureza dessas acontecem todos os dias. A questão dessas duas histórias é paralela à imagem do limite de Ícarus, que queimou as asas por voar muito alto, de ter se aproximado do Sol, mostrando o limite, que a bondade não pode e nem consegue ser infinita. Mas aqui entra o que o Kubrick dita: faça asas melhores.

Em todo o caso, Metamorphosis resume a atitude da humanidade, trancamos a porta, esperamos os problemas morrerem de fome, não queremos conviver com eles. Os advogados do diabo surgem dizendo 'que não existe nada a ser feito', e essa lógica contamina. É algo como a dissociação que acontece quando há um afogamento, e ninguém faz nada porque não há ninguém fazendo nada. Afinal sempre há uma desculpa, mesmo para não fazer nada. De um holocausto a uma banalidade, sempre há uma explicação, um merecimento, qualquer verdade construída vale. E nós estamos em um mundo hoje, em que nada valhe além da aparência, afinal a aparência é de consumo instantâneo, dura apenas o tempo do olhar para. Assim como num carro silecioso que acelera cada vez mais, nós não sentimos a velocidade aumentar, ao piscar dos olhos o mundo é uma superfície oca.

Era esse o presságio que veio com História Sem Fim, onde o mundo de Fantasia é destruído pelo Nada. É fácil culpar Hollywood pelos filmes que fazem, que são superficiais, inofensivos e descartáveis. Hollywood não é causa, é sintoma, eles tentam entregar aquilo que procuramos assistir. É essa a profissão deles, é isso o 'show me the money'. Hollywood não sabe o que queremos essencialmente, mas sabem aparentemente, pois é tudo que uma estatística pode lhes dizer. Não é como saber qual filho é o seu na maternidade, é como saber qual desses recém nascidos tem olho azul. E funciona, porque cada vez menos 'bebês' são adotados pelo público.

O texto de Kafka é uma distopia, não há peso moral, é o que é, é compreensível a reação de todos em volta de Gregor. Metamorphosis é a antítese do romantismo, onde todos os valores Spielberg são estuprados e mortos. Existe esse abismo entre o romantismo e a distopia, como se nós fossêmos forçados a escolher um dos lados, e os dois têm razão. O mundo pode ser melhor se abraçarmos sentimentos nobres, mas ao mesmo tempo pode ser que na verdade estejamos nos enganando, escapando da dor por subterfúgios maniqueístas. Um dia acreditamos que há cura, no dia seguinte ficamos sem esperanças, uma hora crentes, na outra ateus. Nos sentimos como ET querendo voltar para casa, assim como uma barata gigante trazendo apenas problemas para casa.

Talvez a nossa sina seja justamente essa, viver em uma balança que ora pende para o niilismo, ora para a fé. E o que contribui cada vez mais para isso é que as nossas referências do mundo estão cheias de ruído, massas de informações ralas, de uma população que só tem o consumo como ascendência, viciada em uma amplitude de mecanismos sensoriais sem profundidade. Lost é a versão pop dessa confusão, a teoria do espiritual que se funde com a teoria de uma experiência de laboratório.

David Lynch é contra a corrente da catalogação de nossos problemas psicológicos e engavetá-los em um armário de parafusos, que isso mata a essência do nosso espírito, fazendo do infinito finito. No entanto ele quer filmar Metamorphosis, a quitessência dos 'ismos' do final do século XIX, que nos reduziu a uma porção de pedais e molas reagindo matematicamente ao meio. Acho que Lynch diria que estou pensando demais e sentindo de menos. E é isso que soa tão estranho, por mais científica que seja a história de Gregor, não consigo ficar indiferente, me incomodou profundamente, quase abalado, como se o coração estivesse em um lugar e a mente em outro.

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Última Quintaísmo

É uma religião que acredita que o mundo e nossas memórias foram criadas na última Quinta-Feira pela Rainha Maeve, guardiã dos felinos, e que ela destruirá o mundo na próxima Quinta, punindo todos os que foram malvados com os gatos a um eterna caixa de areia.

do Wikipedia

Saturday, November 04, 2006

"Every gray hair on my head I call Kinski"

Encontrei a versão de Herzog a respeito de apontar uma arma para Klaus Kinski em Aguirre.

Depois de semanas navegando pelo amazonas em uma jangada, vestindo uma armadura no calor úmido com pouca comida e água devido à busca de Herzog por autenticidade, Kinsky ameaça de vez abandonar o filme. Herzog diz que está armado e tem nove balas: 'se ele passasse do rio, ele teria oito tiros na cabeça antes de chegar lá, e a nona seria para mim.'

Herzog sobre Kinski> "When you watch a tornado laying waste to a village you don't ask what kind of problem does the tornado have. It is a force of nature. It is the village that has the problem."

"People think we had a love-hate relationship. Well, I did not love him, nor did I hate him. We had mutual respect for each other, even as we both planned each other's murder."

mais sobre Herzog:

"TV uses landscapes. I direct landscapes."

[On the ending of Stroszek (1977):] "When I saw the dancing chicken, I knew I would create a grand metaphor -- for what, I don't know."

Durante uma entrevista, o entrevistador da BBC e Herzog escutaram tiros, o entrevistador se escondeu enquanto Herzog observava 'estão atirando na gente'. Uma bala acerta Herzog mas diz que o tiro não é nada demais e fala continar a entrevista dali mesmo. Uma outra vez, Joaquim Phoenix se acidenta sozinho numa estrada, quando fica consciente ele olha pra cima e reconhece Herzog, que o acude, liga para uma ambulância e se manda sem falar o próprio nome.

Preciso ver Cobra Verde, tá aqui e até agora não vi, dizem que é o filme para quem quer assistir 'Kinski act crazy in a Herzog film'. Foi filmado na Bahia.