Friday, December 21, 2007

A reforma Tributária

(ou o sonho de gastar grana do Audiovisual)


Filmar miséria gastando milhão do BNDES me lembra o fotógrafo que se matou porque preferiu fotografar o urubu comendo a criança viva do que tirar o urubu de cima.

É essa aberração a identidade do cinema brasileiro, do filho rebelde que gasta a mesada, do Glauber Rocha denunciando o Brasil ditatorial com dinheiro da Embrafilme.

O reto é curvo, como diria a sabedoria do NP. O peso na consciência dos filmes nacionais é maior que o filme, história, a idéia original. Esses filmes justificam o gasto do dinheiro do povo a cada frame; e quanto mais eles insistem, mais soa falso, como uma banda agradecendo a um público que não veio. Outros filmes pendem pro “somos comerciais”, “foda-se, somos donos do nosso nariz”. É pois é, o ‘filme comercial’ começa depois de um minuto de uma tela preta com patrocinadores estatais. Não há Conspiração que escape disso. Nem filme da Xuxa que escape disso. É o jeitinho que é. É o que dá pra fazer. E isso vai desenhando e perpetuando o, entre um arroto e outro, Cinema Nacional.

Entre 2003 e 2006, o BNDES desembolsou 30 milhões só no cinema do Rio ($9m em SP). Bem, no Rio tem a Globo, a Petrobrás e a sede cultural do próprio BNDES. Nada é mais estatal que dizer que o Rio é lindo. Pergunta na Avenida Brasil se o Rio é lindo. Bem, entre uma água de coco e um ar-condicionado, os auditores se ajeitam pra financiar o filme do compadre. Quero dizer, porra, eles tão financiando “Aventuras do Surf II”, um “filme comercial”, melhor um “documentário comercial”. Qualé a idéia do filme? Hmm... filmar... surfistas surfando, de novo. $400.000,00 para refilmar a refilmagem da continuação de um Endless Summer com brasileiros. O filme deve gastar essa grana nas praias do Hawaii, Austrália, sei lá, já que o Brasil meio que não tem onda de verdade. Mas surf é um patrimônio nacional, não é mesmo?

E por falar em patrimônio, alguém sabe a renda de Ó Pai Ó? Alguém realmente esperava que um título que só os baianos entendem fosse assistido por milhões? Só na Bahia mesmo (a produção... carioca). Os nossos nobres cineastas que tem registro de emissão e distribuição de Certificados de Investimento Audiovisual na Comissão de Valores Mobiliários, têm, diferentemente do “mercado” que tanto odeiam, o direito de fracassar quantas vezes quiserem. Que Comissão de Valores é essa?

- Seu último filme gastou cinco milhões dos cofres públicos, e teve só 300 mil pagantes.
- Culpa do Homem-Aranha 3.
- E você ainda quer financiar mais cinco milhões pro próximo?
- Sou primo do Chico Buarque, Fernanda Montenegro é minha madrinha. E foi meu pai que te passou sua indicação.
- Desculpa... esqueci, táqui o cheque, quero dizer... as cotas.

Fracasso no cinema brasileiro é experiência, um motivo a mais para investir. É culpa do mercado o fracasso. Será que não é necessário, meu caro governo, haver um contrato de distribuição ANTES do filme ser produzido? Pelo menos o mínimo viável para o filme se pagar? Nesse viés, só os filmes do Didi seriam produzidos, segundo eles. Então não será melhor, já que é para assumir o prejuízo, financiar escolas de cinema e produzir os filmes dessas escolas? Escolher estes filmes através de votação popular, já que o dinheiro é público?

Mas isso é muito caro, é mais ‘prático’ gastar só 15 milhões financiando 20 filmes por ano das mentes iluminadas, diria o nosso impotente MinC.

Claro, entre tantos fiascos nacionais que o BNDES ajudou a produzir, existem no meio Tropa de Elite, Casa de Alice e Cidade de Deus. Tá certo que a lista tem outros 130 filmes que nunca ouvi na vida, mas nesse sentido, Hollywood produz 2000 filmes por ano, dos quais dez valem alguma coisa para lembrar.

E assim como Hollywood, os filmes têm a cara do útero de onde vêm. Os filmes de Hollywood têm cara de mercado, de supermercado, de gôndola de conveniência. Os daqui cheiram a gaveta, a carimbo com um toque adstrigênico de operadora de celular.

A reforma tributária vai ter que parir uma hora ou outra, senão o país quebra, e nisso, no meio da guerra fiscal entre estados, interesses da fiesp, status-quo dos sangue-azuis e dos banqueiros, tá lá o audivisual se aproveitando da carga tributária inchada dos brasileiros enquanto pode.

Essa lei do audivisual, uma terceirização da embrafilme, pode acabar do dia para a noite como foi com Collor. Os interesses da reforma tributária vão passar como um trator sobre o audiovisual. E vai aparecer Barreto fazendo lobby de jornal, querendo parte do imposto único para bancar produções de longas; e a embrafilme, audivisual, etc, vai ganhar um outro nome. Filmes na base da canetada é o jeito nesse país. Será? Tenho medo que talvez... sim. O reto é curvo. E meu Deus, o MASP não tem seguro? Como assim? Seguro é muito caro? Porra... tá pedindo pra ser roubado... corrupção pode até não existir na Suécia, mas não é por isso que ninguém deixa a carteira em cima do balcão.

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Thursday, December 06, 2007

TCC NP

Encontrei um trabalho de conclusão de curso sobre o NP:







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