Monday, April 21, 2008

OK, admito

Toscani,advertising

A propaganda é um defunto que nos sorri. Tirando das palavras do falecido Toscani, nosso mentor rebelde na ESPM. Mas acho que a palavra zumbi se encaixa melhor. A propaganda é um zumbi que nos sorri.

E como todo zumbi, a propaganda quer cérebros. O problema maior de enfrentar zumbis, é que às vezes o zumbi é seu amigo ou alguém da família, e você não quer matar o zumbi (a pancadas ou cortando em pedaços; regra No 1: nunca ateie fogo em zumbis).

Esse é o problema, a propaganda é um zumbi que nos sorri e ainda por cima, um amigo morto.

É assim que me sinto desde que parei de assistir TV: tem um monte de zumbis andando do lado de fora da janela. O jeito é fingir que é normal. Alguém assistiu o último filme de zumbis do Romero? Ele começa com uma banda de praça zumbis, que batem o prato, o bumbo e a corneta em intervalos muiiito lentos e desafinados. Parece um domingo à noite na televisão.

Daí no mundo de zumbis o jeito é você fingir que é zumbi também, senão eles vêm atrás de você. E aí é que eu me pergunto, será que está todo mundo fingindo serem zumbis para não perderem o cérebro também?

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Wednesday, April 16, 2008

Escolhas

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De tempos em tempos a vida nos obriga a fazer escolhas.

No final de nossas vidas nós somos estas escolhas. Para o bem, para o mal, ninguém pode se redimir do que é. E a cada ano, as escolhas passam, até o momento em que não há mais nenhuma.

As escolhas não vêm de dentro, elas nos acompanham; até o momento em que elas se despedem de nós. De certa maneira as não assumir é a escolha em si. É covarde, porém é uma escolha.

Quando as escolhas são proteladas para sempre a vida nos coloca em xeque-mate. Viramos espectadores, o nosso senso de propósito briga com a psique e mergulhamos na depressão de que nada vale. Somos obrigados a continuar com a vida quando ela deixa de ser nossa. E isso foi uma escolha.

É normal para quem protelou suas próprias escolhas sentir raiva de quem as assumiu. A raiva vem porque as escolhas não dão uma única chance, mas elas se repetem como um eco que aos poucos some no vazio. A revolução estava um passo a frente, e alguém atendeu o chamado antes, alguém que não deixou a vontade morrer em trivialidades. Quanto mais parecidos somos com nossos inimigos, mais nós os odiamos.

O que me dana é que todos são tão preocupados na superfície, mas descendo cinco metros na água onde a pressão dobra, a preocupação é uma manutenção descartável. Eu não me excluo disso e preciso mudar.

Pessoas fumam, bebem e meditam para calibrar o pé no chão; às vezes sentem remorso das escolhas feitas. Que às vezes uma pequena escolha pode mudar a vida em um sentido cósmico; que uma escolha pode fechar as janelas de outras, e se demoram anos para entender que antigas escolhas não estão mais presentes. Lucidez é um veneno para quem deixou as escolhas passarem. É difícil ser a mesma criança que éramos antes de apanhar da vida.

Outras vezes assumimos uma escolha errada porque era o que se esperava de nós, de que é o normal, o certo, responsável, digno. É a típica armadilha da vida da qual ninguém nasceu preparado e não existe como ensinar. Só podemos olhar para o passado e imaginar as oportunidades que poderiam ter sido. Podemos dizer que isto é uma lição, mas o trem já foi embora e a lição que fica é inútil.

Pessoalmente não conheço ninguém que tenha escolhido a pílula vermelha; quase todos nós dormimos e acordamos para acreditar no que quer que queiramos acreditar. Depois desta escolha interpretamos os personagens que nos foram dados, atuando para uma câmera que não existe --e canastra ainda. Somos canastras e espectadores; a terra continua girando indiferente, as estrelas olham para nós pensando demos a vida, a capacidade de mudar e entregar um sentido para o cosmos, e mesmo assim, mesmo sabendo disso, eles escolhem jiboiar até serem enterrados vivos.

Já fiz a minha escolha, boa sorte pra quem fica.

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